O Negrinho do Pastoreio
No tempo dos escravos, havia um estancieiro, muito ruim, que levava tudo por diante, a grito e a relho. E naquele fim de mundo, fazia o que bem entendia, sem dar satisfação a ninguém. Entre os escravos da estância havia um negrinho, encarregado do pastoreio de alguns animais, muito comum em que os campos não conheciam a cerca de arame: quando muito alguma cerca de pedra erguida pelos próprios escravos, que não podiam ficar parados, para não pensarem em bobagens. No mais, os limites dos campos eram colocados por Deus. Certo dia, o negrinho, que já havia sofrido as maiores judiarias às mãos do patrão, perdeu um animal. Acabou apanhando barbaridades por isso, e ainda foi mandado procurar o animal extraviado. Como a noite vinha chegando, ele agarrou um toquinho de vela e uns avios de fogo, com fumo e tudo saiu campeando. O toquinho acabou quando o dia veio chegando, e então ele teve que voltar para a estância. Então foi outra vez atado no palanque, e desta vez apanhou tanto que morreu, ou parece que morreu. O patrão mandou abrir a "panela" de um formigueiro e atirar lá dentro. No dia seguinte, o patrão e os seus escravos foram ver o formigueiro. A surpresa foi verem o negrinho vivo e contente, ao lado do animal perdido. E desde então o negrinho do pastoreio ficou sendo o achador das coisas extraviadas.
Boitatá
Em tempos antigos, houve um grande dilúvio, que afogou até os cerros mais altos. Poucas pessoas e poucos bichos escaparam. Mas a cobra-grande, chamada pelos índios de Guaçu-boi, escapou. Tinha se enroscado no galho mais alto da mais alta árvore. A Guaçu-boi, mesmo morta de fome só comia os olhos dos mortos. Diz-que os viventes, pessoas ou bichos quando morrem guardam os olhos a última luz que viram. E foi essa luz que a Guaçu-boi foi comendo, comendo... E com tanta luz dentro dela, ela foi ficando brilhosa, de uma luz fria, meio azulada. Tantos olhos que comeu e tanta luz guardou, que um dia a Guaçu-boi arrebentou e morreu, espalhando esse clarão gelado por todos os rincões. Os índios quando viram aquilo, assustados, não mais reconhecendo a Guaçu-boi, diziam cheio de medo: Mboi-tatá! Mboi-tatá!", que na língua deles significava "cobra de fogo". E até hoje o Boitatá anda errante pelas noites do Rio Grande do Sul.
Fonte: http://www.lendas-gauchas.radar-rs.com.br/index.htm
- Mariana Ribeiro
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